Puta sim, com muito orgulho

Dia desses, Jô Soares sofreu com críticas em nível nacional por afirmar, durante uma entrevista a uma youtuber, que "não era mesmo legal sair com cara de puta na rua". Pegou super mal e deixou a entrevistada mega constrangida. "O que é ter cara de puta?", perguntou a moça e mesmo assim, o global não conseguiu captar a mensagem de que aquela frase era absolutamente sexista. #JôMelhore. Primeiramente (Fora, Temer) porque não existe vergonha alguma em ser vista como puta. Segundo, elas são pessoas e merecem respeito. 

Hoje, senti o peso do preconceito e, na pele, entendi o que a Jout Jour Prazer, a entrevistada, tentava alertar. Mostrei a uma colega as tatuagens que havia acabado de fazer. Uma delas, entre os seios, foi, sem dúvida, a mais ousada da minha história. Duvidei de mim mesma que conseguiria fazê-la. Pensei no desenho, considerei o simbolismo que gostaria de ter no meu corpo para sempre, imaginei as reações dos amigos mais íntimos ao vê-la bem ali, entre os meus seios. 

Mas, em momento algum, imaginei que alguém poderia dizer: "ODIEI. Pode ser preconceito meu, mas gosto dessa área limpa". Confusa e aturdida pelo sincericídio de alguém que mal conheço, questionei o comentário: não entendi, você entende o desenho como uma mácula?". Impávida, a colega respondeu que não teria nada a ver com mácula e sim com associações. 

Pensativa e arrasada, voltei para casa sem entender que tipo de caminhão havia me atropelado. Por que diabos eu estava tão incomodada com o comentário de alguém que, literalmente, conheci outro dia e que, claramente, não faz parte da minha vida? Então, entendi que eu havia me sentido julgada e, um pouco mais além: discriminada. Que possíveis "associações" a pessoa poderia fazer em relação a uma tatuagem entre os seios? Será que isso seria "coisa de puta"? É possível que ela não tenha querido dizer isso ou não tenha elaborado a frase mentalmente, mas foi assim que eu me senti. 

Ser puta é fazer tatuagem sexy? Sim, sou puta. Ser puta é passar batom vermelho? Sim, sou puta.  Ser puta é sair de mini saia e salto alto? Bom, nesse caso também sou puta. Ser puta é usar decote? Prazer, sou puta. Ser puta é ser dona do próprio corpo e se recusar a ser tratada como um objeto útil apenas para o prazer masculino? Sou putona. 

Pro inferno com julgamentos sexistas e cujo único objetivo é tolher a liberdade que todas nós, mulheres, temos sobre nossos corpos. #somostodasputas