Alguém

Por seis longos anos ignorou aquela data solenemente. Não doía não ter alguém no dia dos namorados. Estava em paz consigo mesma, com sua busca. Até que conheceu um alguém. Mas ao contrário do que pensava, a famigerada data não foi o conto de fadas que ela imaginara. Ela bem que tentou. Preparou um jantar romântico, comprou presentes, escreveu um cartão afetuoso. Mas não entendia porque continuava se sentido tão só. Ele estava ali, à sua mesa, comendo, bebendo, conversando coisas triviais. Mas faltava algo.

Porém, havia bem pouco tempo, acusaram-na de ser "exigente demais" em seus relacionamentos. Por isso, deixou-se levar. Parou de exigir presença, parou de esperar por atenção. Parou de cobrar empatia e afeto. Parou de esperar beijos roubados, presentes fora de hora. Parou até mesmo de aguardar por uma simples ligação durante a semana. Perdeu o parâmetro de si mesma. Passou a aceitar que era solenemente negligenciada por aquele alguém. Aceitou um relacionamento sem afeto, sem afagos, sem beijos apaixonados. Aceitou migalhas de alguém que, claramente não estava preparado para tamanha intensidade. Aceitou porque duvidou de si mesma, da sua capacidade de julgar o bom e o mau, o certo e o errado. O aceitável do inaceitável.

Perdera-se tentando encontrar o amor. Deixou esfriar a própria incandescência em favor de ter alguém com quem dividir os sábados ensolarados e alguns domingos chuvosos. Mas agora estava lúcida, muito embora ainda se sentisse só. Mas era uma solidão diferente. Ela escolhera aquela solidão. Poderia estar com alguém, mas decidira estar sozinha em mais um dia dos namorados. Da sua perspectiva, era menos dolorido estar só que sentir-se solitária quando estava acompanhada. Doía menos a solidão escolhida que as noites frias ao lado de alguém que não só não a abraçava, como também não a enxergava. Mais uma vez fizera uma escolha de vida. Não estava triste, tampouco estava exultante. Apenas sabia que jamais aceitaria o inaceitável novamente.