Limites

Ultimamente andava tão ensimesmada que não percebeu o quanto era corajosa. Quando "revisitava" questões relevantes da própria vida tinha o péssimo hábito de minimizar suas lutas e maximizar o próprio sofrimento. Era bem verdade que tinha traumas. Ninguém nunca sai ileso de um divórcio e tampouco deixa de se queimar nas chamas de paixões não correspondidas. Porém, nem mesmo os abalos a fizeram desacreditar no amor. E isso era, de fato, o que a movia
O amor a impeliu a sair de um casamento fadado à infelicidade. O amor fazia com que continuasse a busca por si mesma, pelo equilíbrio emocional. E havia sido o amor que, ainda mais uma vez, a empurrara para fora de um convívio inexorável demais para ser levado com suavidade.

Mas também era fato que, no momentos em que se recordava das próprias perdas, esquecia que era capaz de fazer escolhas. Não apenas simples decisões, mas escolhas difíceis que a tiravam completamente da zona de conforto em prol de uma verdade que era unicamente sua: o seu limite. Aquele "lugar" até onde era capaz de ir. 

Esquecia-se que o fato de dizer não a um relacionamento desajustado - fosse de amizade, amoroso ou mesmo profissional - era um ato de coragem. Obliterava que estava sendo leal consigo mesma quando escapava, por livre e espontânea vontade, de algo que a deixava triste e desequilibrada. Alguém tinha que relembrá-la que escolher estar sozinha era saber o próprio limite. Era não se acomodar. Era dizer não às convenções sociais. Não porque gostasse, mas simplesmente porque merecia mais e sabia disso. 

Era verdade que tinha medo. Muito. Mas nessas horas o  medo não a paralisava. Ela simplesmente sabia o que devia fazer. Às vezes até postergava. Dava deadlines aos comparsas, a si mesma. Mas, no íntimo, sabia que o coração ansiava por algo mais do aquilo que estava recebendo. Muito mais. 

Para não esquecer jamais o quão corajosa fora e continuava sendo, escreveu um texto. 





Comentários

  1. Musa, você se supera, sempre e sempre. E nos choca. E nos encanta. E nos enfeitiça. Ao mesmo tempo em que, nos seus textos, você se entrega ao se despir das amarras do social, você nos presenteia com a beleza, o vigor e a paixão do seu universo interior. Você nos faz pensar em nós mesmos. Seu texto mexe com nossos eus, balança nossas estruturas, nos desperta, nos sacode. Você não é apenas mais uma pessoa. Você é um universo inteiro, complexo, lírico, romântico, explosivo, maravilhoso. Você é pura energia. É puro AMOR. Parabéns. E obrigado por compartilhar tanta vida e tanta SEDE de VIDA.

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