Filhos de Oyá

Vamo embora - Banda do Mar

Certa vez fui a um tarólogo.  Ele fez algumas perguntas iniciais, tipo data de nascimento e essas coisas. Fez algumas contas em um bloquinho que mantinha ao seu lado e franziu a testa. Piscou algumas vezes, olhou pra mim com cara de desconfiado, até que finalmente falou.

- Olha, eu precisaria de mais estudos mas, com isso aqui que você me deu, quase posso afirmar que você é filha de Oyá.

Um parênteses para meu maior Guru, o Google:

Oyá ou Iansã é uma guerreira por vocação, sabe ir à luta e defender o que é seu, a batalha do dia-a-dia é a sua felicidade. Os filhos de Iansã tem porte poderoso,  costumam ter temperamento indomável, diretos nas palavras e exagerados em tudo aquilo que lhes pareça importante. Competitivos, difíceis de lidar e intensos em suas paixões.

- Resumindo - disse o tarólogo - você é o cão e essa sua carinha de boazinha é só mesmo uma fachada. 

Voltei pra casa com aquilo na cabeça. Quer dizer que o meu gênio difícil e implacável tinha, enfim, uma explicação, ainda que não fosse racional, mas religiosa. No candomblé, Oyá é um poderoso Orixá, uma divindade africana. Os orixás correspondem a pontos de força da natureza e seus arquétipos estão relacionados às manifestações dessas forças. Por exemplo, Oyá significa raio e remete ao elemento fogo. 

Se isso for mesmo um fato explicaria muita coisa como, por exemplo: sou extremamente intransigente com quem trai a minha confiança. Em geral, me considero bem paciente com amigos, ainda que sejam problemáticos, afinal, de médicos e loucos, todos nós temos um pouco. Mas quando percebo que a pessoa está simplesmente me sacaneando, aí já era. Um amigo certa vez me acusou de ser "sumária". 

Também explicaria o fato de eu não ter muitas "papas na língua". Se alguém deseja uma opinião sincera, pode contar comigo. Não sou aquela mané que vai esculachar o vestido novo da colega, mas apenas direi "Não faz muito meu estilo". Não tenho meias palavras quando preciso dizer que uma amiga está pisando na bola comigo e digamos que eu não sou a pessoa mais delicada em uma discussão, se é que vocês me entendem...

Os filhos de Oyá, dizem, são vaidosos. Facilmente nos envolvemos em confusões sentimentais. Eu que o diga. Já me apaixonei pelas piores pessoas que passaram pela minha vida unicamente porque elas souberam me bajular.  

Ser filha de Iansã também explicaria por que, sempre que alguém se mete em confusão e precisa de outro alguém para defendê-lo, eu sou a primeira a me erguer. Odeio injustiça e já me vi lutando pelos "fracos e oprimidos" várias vezes, ainda que me queime junto no processo. 

Isso também elucidaria o fato de eu não conseguir disfarçar alegria ou tristeza. Quando estou triste, é impossível não notar porque a minha espontaneidade vai-se embora e aquela piadinha sempre pronta pra fazer alguém sorrir não se forma nos meus lábios. 

Uma das maiores virtudes e um dos meus grandes defeitos resume-se em uma palavra: franqueza. Quando me meto em uma discussão todo mundo sai perdendo, principalmente eu. Digo coisas duras de se ouvir e me torno uma pessoa absolutamente insensível. 

Minha terapeuta sempre diz que preciso arranjar um espaço entre o 8 e o 80. Com temperamento explosivo, típico dos filhos de Oyá, eu busco, a todo custo, reprimir esses momentos de explosão, mas toda vez que tento fazer isso, o tiro sai pela culatra e a coisa toda fica pior. 

Bom, conviver com alguém com essas características, eu admito, não é fácil. Mas existe algo pior que isso: ser alguém assim. Odeio o fato de ser briguenta, respondona e me aborrece profundamente as vezes em que falo algo por impulso e sei que vou me arrepender mais tarde. Morro de remorsos pelos  efeitos devastadores dos meus sincericídios e também sofro imensamente quando me decepciono com alguém e sou compelida a excluir aquela pessoa da minha vida. Afinal, eu erro também, como todo mundo. Não sou melhor  e nem pior do que  qualquer outro e muito menos a dona de toda a verdade e sabedoria humana, mas eu simplesmente não consigo mais amar ou respeitar alguém que traiu a minha confiança. 

Mas, creiam ou não, os filhos desse orixá também têm qualidades. Somos leais, objetivos e estamos sempre nos apaixonando e, quando apaixonados, somos simplesmente dedicados, da forma mais amorosa e fiel possível àquela pessoa. Apesar do temperamento muitas vezes agressivo e pouco carinhoso, somos extremamente meigos quando conquistados e, em geral, apenas entre 4 paredes. Somos batalhadores e decididos, companheiros, firmes como uma rocha. Somos um porto porto seguro. 

Então, todas essas reflexões são apenas para relembrar que a vida é a busca pelo equilíbrio. É sair do 8 ou do 80 até chegar no 40. No fim, não importa muito de qual orixá você é filho ou o que significa a conjuntura do seu mapa astral. A busca pela perfeição, a busca por ser alguém melhor todos os dias é o que faz valer a jornada. Orixás, signos, pra quem acredita como eu, ajudam a nos conhecermos um pouco mais. No fundo e na real todos queremos a mesma coisa: evoluir





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