Minha vida de cão

I wanna be sedated

Do nada lembrei desse seriado que eu costumava assistir na década de 90: "My so called life", a tradução em português era "Minha vida de cão". O que é um pouco exagerado, já que se trata da vida de uma adolescente americana  -  que por acaso do destino é maravilhosa Claire Danes. Uma garota de classe média que, aos 15 anos de idade, tenta sobreviver bravamente ao high school

Olhando pra traz, parece uma  bobagem que a vida de uma garota que mal saiu das fraldas pudesse ser tão sofrida. Porém, ela não só se apaixonou pelo rapaz mais lindo da escola (nada mais nada menos que o Jered Leto!), como brigou com a melhor amiga por questões que nem ela mesma podia entender ou justificar. Pra compensar a solidão imensa que sentia, arranjou amigos desajustados e passava o dia inteiro pensando no tal rapaz que a beijou numa noite e na outra fingiu que não a conhecia. Achava-se feia ao olhar-se no espelho e por isso se conformara a jamais, em tempo algum, merecer o afeto de ninguém. Essas eram, basicamente, as maiores preocupações de Ângela, a garota do seriado. 

Não havia preocupações com grana curta, com contas a pagar, chefes difíceis, uma jornada inteira de trabalho a cumprir, filhos pra criar ou doenças a superar. Apenas um coração partido e algumas espinhas no rosto. Mas a verdade mesmo é que a história das nossas vidas aos 15 anos e aos 30 continua, guardadas as devidas proporções, seguindo a mesma linha: corações partidos e um reflexo desagradável no espelho. 

A gente sempre se sente mais gorda do que está de verdade e tem o péssimo hábito de, como Ângela, se apaixonar por caras errados de vez em sempre. Outras preocupações existem, claro, mas é difícil deixar essas de lado, por mais que nos esforcemos. Então, um seriado que eu costumava ver há quase 20 anos pareceu, no fim das contas, não ser tão distante assim da minha vida de cão nos anos 2000. 

A questão toda é entender que a gente não só pode como deve racionalizar nossas escolhas com uma pitada de  maturidade que o tempo nos concedeu. Uma coisa é um garoto nos decepcionar aos 15 anos e outra é um cara nos desapontar aos 30 e poucos. Aos 15 a gente chora, se debate no chão, escreve cartas e cartas de amor que jamais serão entregues e diz que jamais amaremos outro cara na vida. Mas lembre-se, isso é aos 15. 

Estamos tão acostumadas a enfrentar as coisas com uma proporção gigantesca que eu, por exemplo, já passei 2 anos na fossa por um cara que eu mal conhecia e acreditei piamente que jamais me apaixonaria por outro rapaz novamente. Ou seja, mesmo entre contas a pagar, deadlines a cumprir no trampo e na faculdade eu me vi, novamente, arrasada - sério, parecia que uma bomba atômica havia explodido bem no meio do meu peito - por causa de alguém que não soube me dar valor. Quantos anos eu tinha? 31. 

Ninguém está dizendo que adultos não sofrem. Sofrem sim, claro. Mas a diferença reside no fato de dar as proporções corretas aos fatos. Depois de anos sofrendo com  espinhas no rosto, vários "nunca mais vou me apaixonar outra vez" e uma penca de namorados, é possível dosar as coisas. Só se entrega quem quer. Podemos sofrer sim quando nos sentimos rejeitadas ou simplesmente quando nos metemos em uma fria, mas lembremos que tudo passa, eventualmente. Isso não só vai tornar a vida mais suportável como vai fazer a gente se tocar de que só quem coordena o nosso próprio sofrimento somos nós mesmas. Fica a dica.

#ficaadica

Comentários

  1. Legal sua forma de ver a coisa. Mais difícil do que manter viva a criança que existe em todos nós é manter vivo o adolescente que continuamos a ser, apesar dos anos que carregamos nas costas.... Não adianta, todo adulto nada mais é do que aquele adolescente que foi um dia, escondido atrás de uma armadura de adulto... fingindo ser auto suficiente, independente e bem sucedido... mas ainda carregando medos e amores iguais aos que sofria na idade das espinhas....

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