The big picture

Broken - Jake Bugg


É estranho quando você se pega pensando em alguém que já foi. Alguém que foi algo e não é mais. Alguém que a gente amou e até odiou. Alguém que representou, em algum momento, o "tudo" da nossa vida. O "eu não vivo sem ele" daquele momento. E, de fato, você achou que não viveria. Alguém que misturou todos os sentimentos mais intensos dentro da gente: paixão, saudade, raiva, decepção, amor, loucura, tensão, tesão, tristeza, felicidade. Tudo junto e misturado. 

Mais esquisito ainda é quando você é tragado para essas lembranças sem querer. Um comentário sobre o fulano. Um nome relembrado mais uma vez em meio a uma conversa de bar ou em uma rodada de vinho. E aí você se recorda que até perdeu a conta de quantos anos se passaram desde o último adeus. É, você perdeu a conta. Teve que puxar pela memória a data exata de quando tirou, com lágrimas nos olhos e o coração em frangalhos, aquele peso imenso do seu peito. 

Fica uma sensação estranha de frustração. Não por não ter dado certo, pois a essa altura do campeonato você já se deu conta de que jamais, em sã consciência, poderia estar ao lado de uma criatura que te feriu tanto e tão repetidas vezes. A frustração é por ter se permitido levar. Por ter se enganado e se prometido tanto sem levar em conta o que você merecia (e não exatamente o que você queria). 

Mas essa culpa toda perde terreno para o tempo. O tempo passou e levou quase tudo com ele: a frustração, a decepção, a tristeza e até aquilo que você chamava de amor. O tempo é como uma lente de aumento e, ao mesmo tempo, uma visão panorâmica. Ele permite que você enxergue os detalhes de como tudo realmente era, mas também nos faz ver the big picture

A big picture, ou seja, a visão geral da coisa toda era muito simples: ele te enganou e você se deixou enganar. Simples assim. Mas o tempo de se responsabilizar por isso passou. O que fica é a sensação de que não só o pior já passou como também que o tempo reconstruiu o seu coração inteiro outra vez. Ficaram cicatrizes, talvez mais do que você gostaria, mas elas não sangram mais e nem doem. Elas apenas estão lá para que você se lembre do quanto batalhou para reaver sua auto-estima. O resto é passado

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