Coca-cola é isso aí

Colocar defeito em alguém por quem não estamos apaixonadas é fácil. É ou não é? Qualquer coisa que o cara faça, você já está torcendo o nariz. Nos meus eternos embates mentais sobre relacionamentos, eu sempre fico na dúvida se estou sendo exigente demais ou se a situação é que é demais. Mas, para mim, tudo se resume nisso: ou a gente está apaixonada ou não está. Ponto.

Um vez namorei um cara que eu considerava pão duro. Na verdade, à época, ele não ganhava nada bem e dividia um apê com um colega do trabalho. Até aí, ser pão duro é quase que uma obrigação, senão a grana não sobra pra pagar o aluguel, comprar o pão de cada dia ou até o leite das crianças, se for o caso.

Mas, o mais estranho é que o rapaz gostava de coisa boa. Ele não tinha grana, mas gostava de ir a bons restaurantes e nunca abria mão dos chopps, que eram vários... Na hora de pagar a conta, nós dividíamos, claro. Afinal, foi-se o tempo em que eu saía só com caras que fazem a delicadeza de me pagar alguma coisa. Sem problemas, eu trabalho, ganho meu dinheiro e posso perfeitamente pagar minhas contas, graças a Djá.

O cara era tão pão duro que chegou ao ponto de ele quer dividir o prato comigo, no restaurante, alegando que eu, de qualquer forma, não iria comer tudo. Então, pela lógica, pra quê pagar dois pratos se podia-se pagar só um? 

O golpe de misericórdia foi quando combinamos de assistir a um filme com pipoca lá em casa. Eu ficava com a pipoca - porque afinal, com ele tinha que ser tu-do di-vi-di-do - e ele com a coca-cola. O cara chegou, cheio de amor pra dar e eu, que já não aguentava mais  a versão do "Seu Nonô"/Ultra-conservador-de-direita" ao vivo e a cores, resolvi terminar o namoro ali mesmo. 

O pobre do rapaz ficou com aquela cara de "como assim?" e me questionou se ele havia feito algo de errado. A pergunta me comoveu e apenas respondi a verdade: 

- Falta o sentimento. 

Ele me olhou nos olhos e assentiu com a cabeça. Levantou, dirigiu-se à porta, mas não sem antes pegar de volta a garrafa de coca-cola que ele havia trazido, e disse adeus. Achei tão surreal  a preocupação dele em reaver o refrigerante, que ofereci a pipoca também. 

- Quer ficar com a pipoca? Pode levar. - falei mais penalizada  do que aborrecida.

Sem ter ideia do quanto eu achava tudo aquilo imensamente bizarro, ele ponderou a oferta mas recusou. Partiu cabisbaixo. 

Eu, por minha vez, sem saber se ria ou se chorava resolvi ir dormir. No fundo, a "pão-durice" do garoto não era o fator preponderante para o fatídico término, mas a pura e absoluta falta de amor.









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