Brilhante


Quando eu era criança eu queria ser brilhante. Eu queria ter uma ideia genial, mudar o mundo de alguma forma. Queria que as pessoas olhassem pra mim e vissem não a garota magricela e tímida que eu era, mas sim alguém que se destacasse. Era quase uma ideia fixa. Toda vez que algum amiguinho da escola falava algo que todos concordavam, eu pensava: "Podia ter sido eu a falar isso!".  

Mas, ao contrário das minhas melhores expectativas, nunca fui brilhante. Muito ao contrário, aos 5 anos desenhei um homem verde e a professora fez a gentileza de mostrar o desenho, às gargalhadas, para a sala toda. Aliás, pensando bem, talvez meu plano de me tornar brilhante tenha sofrido um grande impacto desde esse exato momento. 

A partir daí, eu sempre procurava correr atrás do prejuízo, mas a verdade mesmo é que eu nunca tive talento para ser brilhante. Nunca chegaria a ser a primeira da turma, ou a única astronauta mulher a pousar em algum planeta distante, ou  ainda uma bombeira heroína que salvaria uma família de um incêndio. Nunca nem mesmo cheguei a ficar entre os 50 primeiros alunos no colégio em que estudei no segundo grau (eu sempre arrasava na colocação "rabagésimo nono").

Aos 20, percebi que o mais coerente era fazer o melhor que eu podia. Mas isso não impediu que as coisas acontecessem: nem as boas, nem tampouco as ruins. Aos 30, entendi que havia passado os últimos anos tentando controlar algo incontrolável: a vida. Era mais ou menos a mesma coisa que eu fazia quando queria ser brilhante. Eu tentava, tentava, mas aquilo não era para mim. 

O mais interessante é perceber que não importa se você é genial ou não. Não importa quanta grana você tenha no bolso ou quantos cargos de alto escalão você já tenha ocupado. Com o tempo começa-se a entender o que faz a diferença. Mas é preciso estar atento para enxergar. Já dizia Saint-Exupéry: "o essencial é invisível aos olhos do homem". 

Eu queria ser brilhante, mas em vez disso eu sobrevivi às provas de recuperação no segundo grau (e olha que não foram poucas); eu venci os rótulos que colocaram em mim - vagal, fraca, mulherzinha, desprotegida e tantos outros -; eu escalei meus próprios medos e cheguei a fazer o que considerava impossível. Eu ganhei amigos para a vida toda; superei o desgaste de um casamento falido; emergi das cinzas de tantos corações partidos e segui

Entendi que genial mesmo é sacar qual a hora de falar e a hora de calar. É entender qual o momento exato para sair de cena. Brilhante pra cacete é ter aquele insight que te diz: não desperdice seu tempo com essa ou com aquela pessoa.  É saber quem de fato lhe quer bem e, principalmente, quem não quer. É mandar amor e luz para aqueles que já te fizeram sofrer. Isso tudo sim é que é sensacional. O resto é bobagem. 


Comentários

  1. adorei o texto e me identifiquei super com ele. um abraço!

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  2. Tanta coisa ainda que preciso aprender... Esse último parágrafo é uma inspiração! Me identifiquei demais com o texto! ;)
    Um bjo!
    Carol

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