Clack!

Hero - Regina Spektor

Ela pôde sentir o exato momento em que seu coração fez um "Clack!". Sentiu uma dor fina, aguda que foi aumentado a cada segundo. Levou a mão esquerda ao peito, do lado do coração, apertou com força e fez uma careta. Se não estivesse sentada teria caído, estava certa disso. Tentou levantar, mas lá se foi outro "clack!". Pronto, agora a coisa era grave mesmo. 

Respirou fundo e reuniu forças para se mexer. Teve medo de que, quanto mais se movimentasse, o coração se partisse ainda mais. Mas era uma dor tão grande que mal conseguia raciocinar. Levantou e saiu correndo para o toillete feminino. Por sorte não havia ninguém no banheiro. Entrou rapidamente em uma das cabines, ainda com a mão no peito, e escorregou lentamente pela porta até o chão. 

Permaneceu ali, agachada por alguns minutos até que o derradeiro "Clack!" se fez ouvir. Agora era oficial: seu coração estava em frangalhos mais uma vez. Sentiu a primeira lágrima escorrendo pelo rosto fino e delicado. Quentes, salgadas, as lágrimas brotaram dos olhos verdes e amendoados, tornando-os escuros e tristes. Ela jurava que aquilo jamais lhe aconteceria novamente, mas lá estava ela, chorando de consternação em algum banheiro qualquer. 

Fechou os olhos marejados e tentou lembrar como isso havia acontecido. Não se recordava, o que tornava tudo ainda mais surreal. O golpe viera de supetão, sem aviso e nem nada. Só a dor. 

Tentou não se desesperar, mas o coração estava apertado demais, a dor era imensa, quase não suportava. Tapou a própria boca com a mão para não soltar um grito. Abriu os olhos e teve a certeza de que morreria. Considerava impossível um coração se partir tantas vezes em uma mesma vida, afinal, ela já não tinha mais vinte anos. 

Pensou em tudo o que havia passado, em todas as outras vezes em que tivera o coração partido daquele jeito. Lembrou-se de tudo o que havia vivido até ali, de todos os aprendizados, de todas as lições que a vida lhe ensinara. Por isso sabia que aquilo ia passar, mas não naquele instante. Ela sabia que precisava viver aquilo mais uma vez. Sentiu-se desfalecer e deixou-se levar.

Acordou desnorteada, a vista ainda embaçada, a cabeça latejando. Ouviu um "bip bip bip" e reconheceu o monitor cardíaco que sinalizava que ainda estava viva. Sentiu um incômodo no braço direito e viu a agulha que lhe perfurava a pele, os eletrodos grudados no peito, sentiu o cateter de oxigênio em suas narinas. Lembrou-se de tudo e, em um gesto instintivo, levou a mão ao coração. Ele ainda estava partido, ela podia sentir. 

Sentou-se na cama com dificuldade e finalmente viu: o quarto estava repleto de flores das mais variadas, balõezinhos com mensagens como "Estamos aqui! Fique bem!" também estavam por toda a parte. Fotos de amigos com ela estavam nas paredes, e-mails impressos com mensagens de restabelecimento enchiam as bancadas. Pegou um dos cartões que estava à mão. Leu, sorriu. Eles estavam ali, sua família e todos os seus amigos mais queridos, todos eles lhe desejavam o que havia de melhor no mundo. Ela não estava só.

"Volte pra gente, nós te amamos!". Juntou ao peito o pequeno pedaço de papel e chorou de emoção. Não estava só. 








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