O espelho


Ding. A sineta do elevador tocou antes que ela tivesse tempo de apertar o botão. A luz do indicador sinalizava "sobe". Em um impulso, ela entrou. As portas se fecharam. Ela apertou o 14º andar e virou-se para se contemplar no grande espelho

Olhou para si mesma e espantou-se ao perceber que estava bonita. Os grandes olhos estavam mais brilhantes. A boca fina estava relaxada, sem aquela contração que ela fazia todas as vezes em que estava preocupada. Os cabelos estavam soltos, o que era raro. Ela olhou aquela ruguinha bem no meio da testa, que se acentuava quando ela franzia a fronte. Eram marcas do tempo, mas ela estava "ok" com aquilo. 

Passou, sem querer, as mãos no próprio rosto e depois no reflexo do espelho. Ela finalmente se enxergava. Estava de fato bonita. Não se lembrava o que havia acontecido de especial ultimamente, mas algo havia mudado dentro e fora dela. O que seria?

As portas do elevador se abriram. Ela saiu intrigada e começou a caminhar com um olhar ensimesmado. As pessoas que passavam a cumprimentavam:

- Hum, tá bonita hoje! O que foi que você fez, ein?!
- Ai, seu cabelo tá lindo. Pintou de novo?

Ela sentou-se na mesa e abriu um pequeno espelho que tirou de dentro da bolsa. Estava lá. O mesmo reflexo. As pessoas olhavam  para ela como ela mesma havia se olhado no espelho do elevador. Tudo nela vibrava. Ela sentia tudo ao mesmo tempo. Era quase como se tivesse acordado com super-poderes. O que havia mudado?

Não sabia ao certo o que era. Mas resolveu se apossar do resultado. Mexeu nos cabelos soltos, se endireitou na cadeira. Ligou o computador e sem querer, ou mesmo sem ninguém ver, esboçou um sorriso honesto e grato pela descoberta fantástica de que algo estava mudando. Concluiu que era ela: inteira agora e para sempre.

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