Keep calm and this too shall pass

Uma vez me disseram que o luto tem 5 fases: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação. No início achei que isso era papo de psicólogo, mas logo percebi que o bagulho era "for real". 

Demorei a entender que, mesmo seis meses após mandar às favas o psicopata por quem eu havia entregado bons 4 anos da minha vida - achando que tinha saído quase ilesa de um término tão traumático -, a verdadeira onda do tsunami que viria a me afogar ainda estava por vir.

A letargia do estado de choque, possivelmente causado pela síndrome de um stress pós-traumático, era pura e simplesmente a negação daquilo tudo que eu estava me recusando a sentir: a dor da perda, a tristeza, a solidão, o arrependimento, o remorso. De repente, tudo me invadiu como uma grande e poderosa enchente. 

E aí chegou a raiva. Quente e espumante, quase palpável e visível. O problema da raiva é que, muitas vezes, ela termina se voltando contra você mesma. Você se auto-destrói por meses ou até anos. Se afasta das pessoas que te amam porque provavelmente elas estão mais felizes que você (ou pelo menos é isso que você acha), mas a raiva é tamanha que isso é simplesmente insuportável. 

A fase da negociação, no meu caso, foi misturada com a depressão. Ambas caminhavam juntas e de mãos dadas. Eu negociava com Deus e pedia que as coisas melhorassem. Procurava ser legal com as pessoas que me cercavam, no afã de que isso contasse alguns pontinhos no score do universo que, na minha opinião, só queria me ferrar.

A depressão veio em forma de falta de apetite. Perdi uns bons 10 quilos até perceber que minhas calças estavam simplesmente ridículas em mim, pois ficavam caindo. Sem amigos, com a sensação de que o jardim do vizinho era sempre mais verde, me isolava em casa. Dormia por horas e quando estava acordada, nos fins de semana, permanecia imóvel, no sofá, assistindo a qualquer seriado deprimente. 

Engraçado que a aceitação aparece devagarzinho, sem ser anunciada. Eu levantava, dia após dia, cansada dos pesadelos que me apavoravam de madrugada, mas não consigo me lembrar do dia em que levantei sem dificuldades para ir trabalhar. Só me dei conta de que havia aceitado tudo o que havia acontecido e feito as pazes comigo mesma quando me vi chorando de felicidade, no banheiro do meu apartamento, porque finalmente sentia que meu coração havia descongelado.

Passar por tudo isso me permitiu algumas reflexões (mesmo que elas tenham levado anos): me perdoei,  assumi minhas responsabilidades, aprendi a administrar as minhas dores da  melhor forma possível e, principalmente, tive a certeza de que, não importa quantas vezes meu coração se parta ou se magoe, eu sempre vou superar. Porque, no fim das contas, tudo passa, eventualmente. 


Comentários

  1. Pois é, passa mesmo. Antes disso sempre tem o comentário desesperado: "eu nunca mais vou...". Então, quem leu esse texto já vai saber. Há muita vida pela frente.

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