Da série "Fica a dica": rótulo é bom só pra refrigenrante

Tempos de intolerância. Dizem que eles já passaram. Há que diga que hoje em dia os tempos são outros. Tempos modernos. Evoluímos, avançamos, melhoramos. Mas dia desses eu escutei algo curioso. E foi assim que aconteceu: 

- Dorian, você já teve o cabelo curtinho? - a indagação era puro espanto. 

- Já, já tive sim. Quer ver uma foto? - respondi enquanto buscava a imagem no smartphone. - Olha aqui, ó. 

A colega olhou bem foto, torceu o nariz e, com muito bom humor, sentenciou:

- Ah, legal, mas seu cabelo fica melhor assim, longo. Cabelo curtinho é coisa de lésbica. 

Pensei lá com meus botões: por que é mesmo que a gente gosta tanto de rótulos?

Cabelo curto é coisa de lésbica; homenmque é sensível é gay; mulher que não tem namorado ou é sapatão ou é encalhada; homem não chora; mulher chora muito; negro é pobre; mulher que usa roupa colada é periguete; gay é afetado; loira é burra; homens traem; mulher que transa no primeiro encontro é vagabunda; homem conquistador é garanhão; pobre é ignorante; gente rica é boçal e tantos outros preconceitos que nós mesmos temos engendrados em nossa memória individual e coletiva.

Se isso tudo for verdade, melhor eu avisar à minha irmã, que tem cabelos lindos e curtíssimos, que ela é lésbica, mesmo que isso não seja demérito e sim uma opção sexual. Vou avisar às minhas amigas louras que elas são burras e às casadas que, provavelmente, os maridos delas as estão traindo. Vou perguntar aos meus amigos gays onde estão os paetês deles e sentenciar a todas as garotas que transaram com caras num primeiro encontro que elas estão no limbo social e nem Jesus salva. Vou me olhar no espelho e aceitar que nenhum bom homem me quer (mesmo que eu tenha os cabelos longos e não seja "sapatão"), e deixar de considerar que talvez seja eu que não queira qualquer um.  

Vale lembrar que há bem pouco tempo atrás, mulheres não podiam votar porque elas não entendiam de política. As casadas não podiam usar contraceptivos, porque mulher "direita" só casava para reprodução. Nos Estados Unidos, há algumas décadas,  pessoas negras não podiam sentar ao lado de pessoas de cor branca nos ônibus porque elas não eram "iguais". A jurisprudência brasileira não considerava crime o estupro marital, e a Maria da Penha foi espancada pelo próprio marido, por 6 anos, e sofreu duas tentativas de homicídio pelo mesmo cara, porque mulher casada tinha que obedecer ao marido.

Tantos rótulos. Tantos estereótipos vencidos

Fica a dica: Mesmo que meu nome esteja em uma embalagem, não significa que eu deva ser rotulada. Quem sabe um dia teremos respeito por homens mais sensíveis e por mulheres mais corajosas. Quem sabe um dia saibamos, de fato, nos reconhecer como iguais e possamos viver em um mundo muito mais justo. 

#ficaadica
#somostodosiguais





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