O caminho

O caminho prometia. A estrada era bonita e bem pavimentada. Flutuava-se nela ao invés de caminhar.  Não tinha buracos ou rachaduras. Ao redor era tudo verde. Os montes belos e nevados lembravam que o percurso era longo, mas um dia ela chegaria lá.

Durante o caminho ela viu alguns sinais. Alguns deles, ignorou. Outros, leu com atenção, mas não entendeu. Sorridente, ela continuava sem mais preocupações ou desgastes. As placas se tornaram mais constantes. "Cuidado". "Atenção". "Perigo".

Sem entender bem, ela chegou à uma bifurcação. À esquerda o caminho continuava, a estrada pavimentada e com acostamento seguro. À direita, o caminho parecia mais sinuoso. Não havia mais sinais. Mas quando ela olhava para ambos os lados, lá estavam aquelas cordilheiras lindas e geladas. Altas, como nada antes visto por ela. Impávidas e celestiais. Era lá que pretendia chegar.

A escolha era dela. Sempre fora. Sem pensar muito, colocou o pé direito no caminho tortuoso. Era sombrio, ela sabia, mas era o melhor que podia fazer naquele momento. As cordilheiras a esperavam. Assim que escolheu o caminho, arrependeu-se. Ele era infinitamente mais longo que o outro. Mas não tinha mais como voltar. Era um caminho sem volta.

Com o tempo aprendeu a caminhar por aquela estrada. Ascendeu luzes por onde passava e concentrou-se nos sinais. Vermelho: pare. Amarelo: atenção. Verde: vá em frente. Deteve-se nos abismos e chegou a ficar petrificada com obstáculos. Teve medo e sentiu remorsos. Mas seguiu.

Compreendeu que o caminho lhe permitia compreender a escolha. As placas não eram mais tão enigmáticas. Percebeu que era possível caminhar, mesmo quando escurecia. Aprendeu que podia iluminar a estrada com uma centelha interior.

O caminho não se tornou menos sinuoso. Aliás, ela podia jurar que havia até mais subidas do que terreno plano. Mas ela ficou mais resistente. Ao observar, lá longe, as gigantescas montanhas, ela sabia que elas eram seu destino. Estava escrito que um dia chegaria lá. Só não sabia quando. E foi aí que percebeu que não existia caminho certo ou errado.  O que existia era aquilo move o mundo: vontade.





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