A pomba gira e o professor

O professor era de "Estética e Cultura de Massas", matéria seríssima. Mais cult que isso, impossível. Dá-lhe reprodutibilidade técnica pra cá, Adorno pra lá, Barthes e outros pensadores da Era da Comunicação de Massa. O professor era daqueles meio esquisitões, como todo professor de "Estética e Cultura de Massas". Tinha lá seu jeitão esquizofrênico de ser, já diziam as más línguas. Até que um dia ele resolveu incorporar. Sim, é isso mesmo: incorporar uma pomba gira

O professor danou-se a fazer rodopios com o  corpo e a falar de uma maneira esquisita. Os alunos, sem saber o que fazer, dispuseram-se, incrédulos, a rir. Outros estremeceram muito mais por não acreditar nas bruxas, mas porque elas existem, e existem mesmo. Chamaram o coordenador do curso de comunicação que, preocupado e já acostumado com as esquisitices do professor de Estética, veio prontamente. 

- Professor, posso saber o que o senhor está fazendo? - indagou o coordenador. 
- O professor tá brincando com fogo...Mizinfi não sabe do que a nêga é capaz - respondeu a entidade e danou-se a se contorcer pela sala como uma boa pomba gira que se preze. 

O coordenador olhou em volta e reparou a cara de espanto dos alunos envolvidos no episódio. Resolveu então ser prático. 

- Dona pomba, será que a senhora pode me explicar porque está atrapalhando a aula do meu professor?

- Porque ele tá sendo muito levado comigo. Precisa de uma lição. - respondeu a entidade com aquele traquejo esquisito. A essa altura o coordenador já não sabia mais o que fazer e dispô-se a convencer a pomba gira a largar o corpo daquele pobre homem, antes que a reputação da faculdade fosse pro espaço. 

- Dona pomba, entenda uma coisa, isto aqui é uma faculdade séria e eu estou pagando esse professor para dar aula pra esses alunos. Será que a senhora pode ser um pouco compreensiva?! Dá pra acertar contas com ele depois da aula, por favor?!!

A entidade comoveu-se com o pedido desesperado do coordenador e foi-se embora. O pobre do professor ficou estatelado no meio da sala de aula e com cara de ressaca. 

- É o que tem pra hoje, minha gente... - resmungou baixinho o coordenador que saiu da sala com cara de poucos amigos.

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