Nunca mais...

Nunca mais o vi. Fazia anos não voltava para buscá-lo em minhas memórias tristes e decreptas. Ele também não. Mais de três anos se passaram e eu sequer tive a curiosidade de "dar um google" nele. Até o dia em que me disseram que ele estava casado. Refeito da devastação que foi nosso casamento, do horror que foram nossos últimos dias. Soube que ele tinha um filho. Ficou implícito que a mulher dele estaria grávida outra vez. "I guess she gave you things I didn't Give to you".

Um dia o amor dele foi só meu. Atirei-o contra as pedras, ele e o seu pobre coração partido. Até hoje a culpa me persegue. Que foi que eu fiz? Eu sempre me perguntava isso. Há três anos, pesadelos me visitavam vez por outra pra me assombrar. Acordava angustiada e triste.

A ideia de que, em tão pouco tempo, ele tenha refeito uma vida inteira, se apaixonado outra vez, jurado amor eterno denovo e recomeçado do zero, tudo isso só me lembra a mim mesma, aos meus dias de tristeza por um outro alguém que jamais valeu o transtorno.

A inveja veio primeiro e nem sequer bateu à porta. Ele tem uma família completa, com mulher e filhos, tudo aquilo que me neguei a dar a ele. Principalmente, ele tem alguém. Ele ama e é amado. Suas noites são preenchidas por uma companheira gentil, talvez como eu nunca tenha sido. 

Depois veio o despeito. Ele até pode ter alguém, mas deve estar trocando fralda e acordando de duas em duas horas, enquanto eu viajo pela Europa e me aprimoro intelectualmente. 

E aí, só após esse desgaste, veio a voz da razão. Nem tanto ao céu, mas nem tanto ao mar. A vida dele não me interessa pelo simples fato de não se tratar de uma competição. Não há prêmio no fim do túnel para "aquele que for feliz primeiro". A propósito, o que é felicidade mesmo? Ele está mesmo casado e tem uma família, mas eu jamais seria quem sou hoje não fossem as escolhas que fiz até aqui. E, convenhamos, eu jamais seria a mulher que ele precisava.

Nunca mais o vi a não ser em meus pesadelos. Jamais voltei a buscá-lo nas trincheiras da minha frustração. Mas soube que ele está feliz. Culpa pra quê? Dei o Google nele finalmente. O coração batia forte. Vários cliques e vários enters. Nada. A razão veio sorrateira e disse uma frase tão conhecida: "Deixa passar". Foi o que fiz. 

Outro dia sonhei com ele. Sonhei que ele me perdoava e acordei feliz. 

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