Somos mulheres e não desistimos nunca

Outro dia eu estava pensando em tanta coisa que nós, mulheres, passamos e que mesmo assim nós continuamos de pé. Firmes. Fortes. Dignas.

A começar pelo fato de que desde muito novas temos que aprender a fechar bem direitinho nossas pernas. "Moça de família não age assim" ou "Moça de família não age assado". Enfrentamos um preconceito dentro de nossos próprios lares. Os filhos homens podem tudo, já as meninas, nada. Têm que sair acompanhadas, namorar então, nem pensar. Festinha? Só até meia noite e ainda sim se tiver nota boa no boletim escolar.

Aprendemos que valores como casamento, família, filhos e fidelidade são indispensáveis para um vocabulário de uma garota "descente". E aí a gente cresce lendo aqueles livrinhos que dizem "...e foram felizes para sempre" e achamos que um dia isso realmente vai rolar com a gente.

Ainda tem também todo o lance do trampo. Trabalho. Temos que ser bem sucedidas no mercado, ganhar bem, sermos competentes e, de quebra, menos emotivas e mais objetivas.

Ok. Alguém pode dizer que nós, mulheres, não precisamos de nada disso. Que essa cobrança vem de nós mesmas. Mentira. A gente precisa se sustentar. Ganhar nosso pão de cada dia. E o pão de cada dia exige que sejamos melhores do que os homens no ambiente de trabalho. E, é claro, eu também me sinto na obrigação de honrar aquelas mulheres que morreram queimadas por reivindicarem redução da carga de trabalho, em 1857.

Na adolescência aprendemos rudimentarmente o que é ter um coração partido. Várias vezes. E parece que quanto mais a gente cresce, pior fica a dor da decepção.

Superar um coração partido foi a coisa mais difícil que até hoje aconteceu comigo. Nada se compara às horas incontáveis em que meu único desejo era nunca mais sentir essa dor sufocante no peito, um aperto no coração, como se diz por aí...Uma vontade horrível de morrer porque até mesmo a sua respiração dói. Levantar era um sacrifício sobrenatural e hoje eu fico pensando que força milagrosa era aquela que me tirava todos os dias da minha cama e dizia: levanta e anda.

E aí vêm as cobranças de beleza e juventude eternas, porque até mesmo os "tiozinhos" metidos a garotões que há por aí, querem uma "garotinha". Na casa dos "enta", nem pensar! Ai de nós se ousarmos sermos normais. Aí entram os cremes anti-idade, as escovas "agressivas" pra alisar o cabelo, lipoaspiração, botox, as horas incontáveis nos salões de beleza, peelings de cristal, depilação a laser, banho de lua, massagem linfática, dietas malucas e todo o tipo de parafernalha e vitaminas para mantermos a fórmula da beleza (e magreza) constante.

Sem contar também as decepções amorosas. Como casamentos fracassados, relacionamentos que sucumbem às intempéries da vida. Pessoas que vão ficando pra trás e que não podemos resgatar porque o tempo delas passou. Divórcios, separações, desencontros. Isso tudo é tão difícil.

Fora termos que superar nossos próprios medos. Medo de ficarmos sozinhas. Medo do escuro. Medo de nos fazerem sofrer outra vez. Medo de acreditar. Medo de decepcionar. Medo de confiar. Medo da dependência. Medo de nunca mais amar. Medo de nunca mais sermos amadas.

E por mais que haja dias em que nós não acordemos nos sentindo "lá essas coca-colas", todos os dias nós nos levantamos. E caminhamos. E vivemos. E aprendemos. Não como nossos pais (parafraseando a música da Elis), mas melhor que nossos pais. Nos reinventamos todas as malditas vezes em que partem nossos corações, em que sofremos algum tipo de preconceito por sermos mulheres, em que não nos submetemos às amarras morais dos tradicionalistas. Nos reconstruímos sempre que a vida nos exige força e coragem.

E Força e Coragem , eu aprendi em 2009, é o meu sobrenome. E o seu?

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